Artistas árabes desenham situação da mulher na região

A Folha pediu a quatro mulheres árabes retratassem a situação feminina após as revoltas da Primavera Árabe.

GIHÈN MAHMOUD

A tunisiana Gihèn Mahmoud, 29, desistiu de seu país há alguns anos, por falta de oportunidades profissionais. Mora hoje em Milão, onde trabalha como tradutora.
A autora dos gibis de espionagem "Passion Rouge" ressalta os avanços nos direitos das mulheres na região. "A Tunísia é um dos países árabes mais preparados a respeito dessa questão", diz.
"Abolimos a poligamia há décadas, e as mulheres são protegidas por lei contra a violência física, exemplifica.
A falha na legislação, que ela diz ter "status europeu", é a parte que destina a maior parte da herança a homens.
De resto, há loas para a participação política. Na Tunísia, as mulheres ocupam 23% dos assentos da Câmara dos Deputados. O índice, no Congresso dos EUA, é de 17%.
Gihen Mahmoud/Divulgação


SANDRA GHOSN
A libanesa Sandra Ghosn, 28, vive entre Beirute - onde nasceu e cresceu -- e Paris, onde mora hoje. Além de ilustradora, ela é fotógrafa.
Entre os destaques de sua carreira está a participação na revista coletiva de vanguarda "Samandal".
Quanto aos direitos das mulheres no Líbano, Ghosn chama a atenção para a diferença entre as gerações. "A minha é bastante liberada!"
Ela optou por ilustrar a questão com o desenho de uma festa em Beirute. "É assim que minha geração se comporta, hoje", afirma.
O país comemora índices em alta, nos direitos humanos. A proporção de mulheres entre 20 e 24 anos casadas aos 18, 10%, está entre as menores nos países árabes. No Iêmen, são mais de 35%.
Por outro lado, há estatísticas menos vitoriosas. A prevalência de agressões contra mulheres no Líbano é de 35%. No Iraque, é de 23%.
Sandra Ghosn/Divulgação

SALWA ZAHID
A saudita Salwa Zahid, 40, diz que os direitos das mulheres na Árabia Saudita equivalem a "zero". Assim como, afirma, a resposta para "tudo o que uma mulher quer fazer sem um homem" é "não".
O país tem exemplos extremos de desrespeito a mulheres - incluindo proibi-las de dirigir ou de viajar sem autorização de um homem, entre outras medidas que as excluem do espaço público.
Salwa já expôs em galerias sauditas, e diz que a arte "é um lugar em que a liberdade pode ser encontrada."
A liberdade que, por enquanto, ela não encontra no próprio país. Na ilustração para a Folha, Salwa retratou uma mulher cercada de homens, que lhe dizem que ela não pode guiar um carro.
Está escrito em árabe, no véu que cobre o cabelo da mulher à esquerda: "Nós caímos na armadilha deles".
Salwa Zahid/Divulgação

SARA ABDELAZIM
A egípcia Sara Abdelazim, 23, aponta dois caminhos a serem trilhados para haver avanço nos direitos das mulheres no país.
O primeiro é a participação política. O segundo, a violência sexual --geralmente, costumes tribais anteriores ao islamismo, como a mutilação genital, que afeta mais de 95% da população feminina.
São estradas "bem compridas, apesar de estarmos em um patamar relativamente acima dos países vizinhos".
Abdelazim trabalha como consultora de tecnologia. Mas ela está apostando no sucesso da editora Division, fundada em janeiro deste ano no Egito, reunindo jovens artistas a fim de fomentar uma ainda inexpressiva indústria de quadrinhos árabes.
No desenho à Folha, Sara retratou cenas de assédio sexual. O pirulito faz referência a uma campanha pró-véu, em que mulheres eram representadas por doces e homens eram insetos. "A ideia era de que, como é natural que o inseto seja atraído pelo doce, a mulher precisa se proteger", diz. "É ingênuo, e até estúpido."
Sara Abdelazim/Divulgação

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